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Descobertas quantificadas

Você sabia que o preço médio do fígado gira em torno de R$8,00 e que foram descartados de fevereiro de 2011 a dezembro de 2015, um total de 15.770 fígados por conta da fasciolose? Sabendo que cada fígado pesa em média 5kg, descartamos R$ 630.800,00 na cadeia de produção de carne bovina.



Perguntas realizadas aos Responsáveis-Técnicos de Frigoríficos

O ponto crítico dos Médicos Veterinários aos Frigoríficos é a INFRA-ESTRUTURA. Você sabia? Eles relatam o alto custo de manutenção do frigorífico, e como os proprietários trabalham com uma margem de lucro pequena, o investimento se torna muito alto e difícil de ser aplicado! Complicado, não?

ÚLTIMOS AVANÇOS

Informações sobre o grupo

Informações sobre o projeto
Mapa:
Focos x Doença
Quero mudar esta realidade

 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS (materiais e métodos)

 

          O projeto foi desenvolvido no frigorífico "X" localizado no município de São João do Itaperiú-SC. O frigorífico foi visitado para o acompanhamento das rotinas de abate e identificação das patologias presentes nas carcaças e vísceras bovinas, sendo esta identificação de responsabilidade da Médica Veterinária que no momento era responsável pelo frigorífico. Os dados coletados nos arquivos do frigorífico correspondem ao período de fevereiro de 2011 a dezembro de 2015.  As informações repassadas continham os dados diários da quantidade e o motivo de vísceras descartadas por propriedade e seu respectivo município. Agrupou-se os dados por mês e município e em seguida nas microrregiões do estado: Grande Florianópolis, Norte Catarinense, Oeste Catarinense, Serra Catarinense, Sul Catarinense e Vale do Itajaí. Assim, seria possível a análise geográfica dos dados, a fim de relatar quais localidades possuem maior registro de doenças de maior incidência.

          Com a intenção de conhecer a realidade de outros frigoríficos, o grupo entrevistou três proprietários e três médicos veterinários responsáveis por três outros frigoríficos do município. 

          Após a tabulação e organização dos dados realizados no programa Microsoft Excel, procederam-se as análises estatísticas de teste de normalidade, análise de variância, Qui-quadrado e comparação de médias pelo teste de Student com auxílio do pacote estatístico JMP (JMP, 2013). Desenvolveu-se um site com a intenção de divulgação destes dados para a comunidade em geral e uma cartilha informativa sobre a patologia mais relevante no frigorífico estudado para os produtores.

 

RESULTADOS E DISCUSSÕES

    

          Os descartes de carcaças e vísceras, com exceção do fígado, não foram possíveis de serem relatados devido ao baixo índice de descarte dos mesmos. Desta forma, abordou-se neste trabalho a doença de maior incidência que foi a fasciolose hepática.

            No ano de 2011 foram abatidos 21.847 animais sendo que 644 (2,95%) tiveram condenação de fígado decorrente da fasciolose. A região mais acometida no ano foi o Vale do Itajaí, com 49,69% dos casos, seguida pela região Oeste, com 21,74%. Em 2012, 1.130 bovinos (4,51%) dos 25.039 que foram mandados ao frigorífico apresentaram a doença. Desta vez as mesorregiões que mais se destacaram foram o Vale do Itajaí e o Norte, com 53,72 e 19,82% dos animais, respectivamente. Em 2013 houve um aumento significativo, passando a ser de 9,44%, 2.860 fígados em 30.286 abates, a taxa de condenação. Durante este período o Vale do Itajaí (29,69%) continuou sendo o líder em animais contaminados, porém sendo acompanhado de perto pelas regiões Oeste (21,19%) e da Grande Florianópolis (20,66%). Em 2014 o número se tornou ainda mais expressivo: de 40.835 abates, 5.040 fígados foram rejeitados, totalizando 12,34%. O Vale do Itajaí continuou na liderença no número de casos com 34,38%, porém a segunda colocaração ficou com o Sul com 15,40% dos animais. Em 2015 foram sacrificados 49.195 bovinos, com rejeição de 6.096 fígados (12,39%). O Vale do Itajaí apresentou o maior número de animais doentes (42,59%) e em seguida vem a Grande Florianópolis (16,72%).No decorrer de quase cinco anos foi abatido um total de 167.202 bovinos, com descarte de 15.770 fígados (9,43%), sendo que a região do estado que mais apresentou casos foi o Vale do Itajaí, tendo rejeição de 6.105 fígados (38,71%).

           As diferentes mesorregiões do estado de Santa Catarina não apresentaram um comportamento padrão na porcentagem de fígados descartados entre os anos de 2011 e 2015. Isso pode ocorrer por conta das condições climáticas de cada região. Apesar do Vale do Itajaí ser a localidade com a maior quantidade de animais doentes, deve-se destacar que a região que mais destina animais ao abate no frigorífico em questão é a região Oeste, descartando a possibilidade de uma ocorrência maior de fascíola por conta de um maior número de abates oriundos daquela mesorregião.

           Considerando que um fígado pesa em média 5 kg e que o preço nos dias de hoje é de aproximadamente R$ 8,00 por kg, podemos calcular que em quatro anos e meio as perdas decorrentes da fasciolose giraram em torno de R$ 630.800,00, sendo que este valor refere-se apenas às perdas causadas pelo descarte dos fígados, não envolvendo diminuição do ganho de peso, queda das taxas de fertilidade, atraso no crescimento e morte dos animais.

           Com a análise pode-se verificar que regiões que antes não possuíam o verme, como a região Oeste e a Serra, por exemplo, agora apresentam índices consideráveis da doença, com 12,10% e 10,84% do total de condenações, respectivamente. Com base nessas informações entramos em contato com a CIDASC para fazer a rastreabilidade destes animais, identificando se eles nasceram naquelas regiões ou se nasceram e se contaminaram em regiões mais favoráveis ao helminto e depois foram transportados. Rastreamos 239 animais abatidos em 2013 e provenientes destas localidades: 80 de produtores serranos e 159 de produtores do oeste. De todos os bovinos rastreados apenas um foi trazido do Vale do Itajaí, o que caracteriza menos de 1% do total. 137 animais haviam nascido no oeste (57,32%) e 101 na serra (42,26%), confirmando a hipótese de que o parasita e o hospedeiro intermediário já estão presentes nestas regiões.

            Sendo assim, foi realizada a caracterização de todos os 134 municípios que apresentaram casos da patologia no frigorífico estudado com o mapa do estado de Santa Catarina. Foi confeccionada uma cartilha informativa destinada aos produtores rurais, com informações como: ciclo da doença, relevância do parasito, controle, tratamento, e dimensão geográfica da patologia. Tal cartilha foi disponibilizada nos quatro frigoríficos visitados no município de São João do Itaperiú-SC. O site para divulgação ao publico externo, foi realizado através de uma plataforma gratuita na internet.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

           O estado de Santa Catarina possui barreiras sanitárias com bovinos devido a ausência de febre aftosa e brucelose sendo este um diferencial de mercado aos produtos deste estado. Por outro lado, acaba dificultando o crescimento do rebanho e da produção pela impossibilidade de compra de animais vivos de outros estados. Com isso, o levantamento de dados sobre patologias encontradas deve ser realizado, para melhorar a qualidade do rebanho catarinense, e com isso, aumentar a capacidade de produção estadual.

           Com o levantamento de dados em caráter geográfico foi possível analisar a dimensão da fasciolose hepática dentro do estado de Santa Catarina, sendo que o alto número de descartes de fígado é um indicativo suficiente da alta prevalência do parasito nos municípios relatados pelo frigorífico e a necessidade então, de um manejo preventivo e um controle de parasitos nas propriedades. Utilizando a cartilha informativa foi possível dimensionar estes números para os produtores rurais, caracterizando a importância de melhorar o manejo dos animais, para que, a qualidade de vida destes bovinos aumentem, a qualidade do produto e a diminuição de perdas.

           Outra informação fundamental para próximos estudos é a prevalência desta patologia na microrregião do Vale do Itajaí, devido ao relevo e clima que acabam por predispor a infecção ao parasito. E, também, o motivo da alta incidência de casos em microrregiões que culturalmente não apresentavam. A relação mesorregião-fasciolose acontece pela necessidade da presença do caramujo para que o ciclo do helminto seja completo e o Vale do Itajaí possui as condições ideais para sua proliferação (calor e umidade). Rastreando os animais de regiões que não apresentam o habitat ideal para o caramujo, identificamos que o mesmo já está adaptado àquelas regiões, tendo ultrapassado as barreiras físicas e climáticas existentes.

           Os descartes de carcaças e vísceras, com exceção do fígado, não foram possíveis de serem relatados devido ao baixo índice de descarte dos mesmos. Assim, novos estudos devem ser realizados a fim de com um maior número de amostras, seja possível diagnosticar e sanar a falta de informações na literatura.

           A disseminação de informações sobre a relevância desta parasitose para os produtores rurais faz-se necessária, pela grande influência que os proprietários possuem perante aos animais. A discussão é referente ao fato que caso algum manejo fundamental não é regularizado e descrito em leis, o único modo dos estudos realizados serem efetivados e conseguirem alterar e melhorar a qualidade de vida destes animais é a ação de repassar estas informações analisadas por um meio de fácil acesso, sendo este, a cartilha desenvolvida. Buscou-se assim, concretizar o intuito para a realização do projeto, que seria atingir a base da cadeia produtiva de um modo prático e construtivo.

         

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BRASIL. Ministério da Agricultura. RIISPOA - Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal. Brasília, 1980.

BOAS PRÁTICAS AGROPECUÁRIAS: Bovinos de Corte. 1. ed. Campo Grande: Embrapa Gado de Corte, 2007.

JMP®, Version 10. SAS Institute Inc., Cary, NC, 1989-2013.

MENDES, R. E.; PILATI, C. Estudo morfológico de fígado de bovinos abatidos em frigoríficos industriais sob inspeção estadual no Oeste e no Planalto de Santa Catarina, Brasil.  Ciência Rural, Santa Maria, vol. 37, n. 6, nov./dez.2007. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0103-84782007000600035 >. Acesso em: 17.set.2013.

SILVEIRA, N. Dados históricos sobre legislação brasileira de Alimentos. Revista da Carne, nº 277, p. 39-42, 1996.

Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina. Florianópolis: Epagri/Cepa, 2011. 

                   

Fonte: Google Imagens

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